quarta-feira, 30 de julho de 2008

. sinceras palavras .

 Tudo é tão intenso que te prende e faz com que ignore o mundo ao seu redor. Esta cegueira não passa em branco, todos reparam e sentem com a mesma intensidade o desastre do fato de ser muito intenso. Esperamos que o final seja feliz, mas se não for, estaremos lá para compensar a dor e começar de novo. Não será a primeira, nem a última... O importante é que sempre temos assunto para uma noite toda, sem precisar fazer juras de amor, declarações públicas e mostrar afetos inexistentes. Falamos do bem e do mal, sem hipocrisias. Acreditamos na felicidade alheia de forma sensata. 

"Que não seja imortal posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure..."
 Vinícius de Moraes 

quarta-feira, 23 de julho de 2008

. triagem .

Uma moça de poucas palavras pede seu documento e endereço, outra já simpática te dá uma senha e uma risada, uma mal-humorada pinica seu dedo e a falante mede e anota seus batimentos. A sua senha pisca e indica a sala escolhida. Anda alguns metros e chega a sala da moça que é muito mais falante que a última e que consegue fazer mais perguntas do que sua mãe e suas amigas em dia de sessão fofoca juntas! Ela te libera, com um novo papel e indica uma nova localização. No final do corredor dá de cara com mais uma moça, esta de meias palavras e com cara de cansada. Você aguarda, vota, assina e espera até sua última chamada. Deita e aguarda o moço de branco, nisso repara ao redor e vê toda aquela gente meio sorridente, meio pálida. Ele fala bom-dia, faz algumas perguntas, te amarra e te fura! Você fica ali deitada e nesta hora pode ficar até meio pálida, mas mesmo assim se sente bem, porque no final você se doa!

segunda-feira, 21 de julho de 2008

. ócio criativo .

Gasta horas e mais horas do seu dia pensando. O ato de pensar e pensar te deixa em um estado tão paranóico que sua imaginação vai além da realidade. Um turbilhão de idéias te perseguem a tarde toda e o seu café serve como criador de idéias mirabolantes, sendo que nenhuma delas fazem parte do seu trabalho. Neste estágio você pouco se importa com o mundo ao seu redor, pois afinal de contas sonhar com a possibilidade do inexistente é algo muito mais atrativo. Cria frases, monta diálogos e tem todas as respostas na ponta da língua...esta quase ao ponto de treiná-las na frente do espelho para que tudo de certo quando chegar a hora, mesmo sabendo que esta hora pode ser algo que nunca chegue. Sente uma sensação de felicidade pelo simples fato de imaginar cenas, ri sozinha e não vê a hora do dia acabar para poder pensar sem a interrupção de pessoas que não foram convidadas ao seu pensamento. 

E assim acaba mais uma longa segunda-feira de inverno ensolarada...

quarta-feira, 16 de julho de 2008

. feita com o coração .

Cada pedacinho era de uma cor, sem ter uma combinação muito perfeita, seus olhos eram amendoados, tinha bochechas rosadas e sapatos empoeirados. Vivia sempre parada no canto daquela sala a espera daquela que poderia transformar o irreal em real. Acreditava que um dia poderia expressar todas aquelas lágrimas enxugadas pelas fibras do tecido rasgado e falar as palavras escondidas entre as entrelinhas da costureira.

O sonho da boneca de pano era ter seu cabelo penteado, seus remendos remendados e alguém para agarrá-la até que seu vestido de algodão colorido ficasse amarrotado. 

Por causa de uma montagem mal feita, ela era única. 

quinta-feira, 10 de julho de 2008

. sabor chocolate .

No horário marcado, ele se encontrava encostado no carro da cor "gosto de chamar a atenção", enquanto ela descia as escadas rindo. Ele veio em sua direção e roubou-lhe um beijo. Ela sentiu um frio na barriga que a fez recordar do tempo de adolescente a beira de um surto de paixonite. No carro, sua música predileta, um presente escondido no porta-luvas e muitas risadas. Conversas bestas, muitas perguntas sem pé nem cabeça e uma estranha sensação devido a mistura de sentimentos indefinidos. A comparação foi inevitável a cada palavra, olhar, brincadeira, beijos no canto da boca, carinhos na barriga... enquanto ela tagarelava sobre o que viesse na cabeça pensava também como poderia ser tão igual o que era diferente.

Ela, sonhou a noite. Ele, teve insônia.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

. bom e velho flerte .

No meio de uma mistura de altos, baixos, loiros, cabeludos, desleixados, bombados, engomados, gordos e magros, ela o encontrou. Como quem não quisesse nada, ela olhava para os outros a sua procura e sempre estava a espera de um único olhar, o dele. De mulher boba, não tinha nada, resolveu na primeira oportunidade dar um empurrão no seu destino, entre uma de suas idas ao bar, pediu licença colocando a mão no seu ombro e ele reparou. Foi aí que tudo ficou claramente descarado, olhares que diziam mais do que palavras, sorrisos forçados para chamar a atenção de quem estivesse ao alcance e um charme misturado com vontade de querer jamais vistos e sentidos antes. 
Então ele falou: eu sou aquele que te olhava. Ela por sua vez, riu e disse em um tom sarcástico: Sério, nem havia percebido!

Foi ai que ela descobriu que ele ja havia reparado muito antes, mas ela que não havia notado, velho truque do destino que já havia sido empurrado.